segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Eleições, mídia, mentiras e nós, eleitores


O primeiro dia de 2011 marcará um fato importantíssimo na história do Brasil: a primeira vez em que uma mulher assume o comando da república. A eleição de Dilma Roussef é uma ruptura no modelo que, por cinco séculos, impôs sempre machos brancos no comando de milhões de brasileiros. Talvez a única exceção seja a espanhola Ana Pimentel, de Salamanca, esposa de Martim Afonso de Souza que, em 1544 ou 1546, governando a colônia, revogou a proibição feita por seu marido de colonos ou estrangeiros, partindo do litoral, embrenharem-se pelos sertões da terra pouco conhecida do Brasil, e foi a responsável pela introdução da cultura de cana de açúcar em nosso país. No processo – campanha - que levou Dilma Roussef a ser preferida pela maioria da população brasileira, pudemos acompanhar uma infinidade de situações que permitirão aos futurólogos compor panoramas possíveis para o futuro do país – e para as próximas eleições. No centro das análises está o comportamento do eleitorado, havendo destaque para as manifestações que alimentaram as bases de dados dos veículos de comunicação que permitem a postagem de comentários do público e, também, as redes sociais. Mas o comportamento dos políticos e dos meios de comunicação também devem ser analisados com atenção.

Os profissionais de marketing sabem que o período de quatro anos tanto pode ser curto quanto pode ser longo para que ocorram mudanças no comportamento da sociedade. Os fatos e as circunstâncias históricas são imprevisíveis. Ainda assim, de posse das informações fundamentais e a partir de análises razoáveis, é possível identificar algumas tendências, tanto gerais quanto particulares, que possibilitarão formular estratégias políticas e sociais com a finalidade de intervir no destino de toda a sociedade. Algumas variáveis, no entanto, permanecerão fora dessas análises, dada a sua imprevisibilidade. As ações humanas transcendem o território da lógica, bem como alguns fenômenos culturais que emergem de uma hora para a outra. A condição de previsibilidade utilizando métodos racionais muitas vezes está em desvantagem em relação à pura adivinhação. Não porque os métodos científicos não sejam válidos, mas porque o alcance do nosso entendimento é limitado.

No debate televisivo da Rede Band que acompanhava a apuração dos resultados das eleições, no domingo, 31 de outubro, uma questão que provocou um debate apaixonado dizia respeito à precisão das pesquisas, ou melhor, à capacidade de previsibilidade dos institutos de pesquisas e o poder de influência de sua divulgação sobre o eleitorado. Debatiam o senador Álvaro Dias, do PSDB, o deputado João Paulo Cunha, do PT, é o sociólogo e geógrafo Demétrio Magnoli, provocados pelo jornalista Ricardo Boechat. A certa altura, já com 73% dos votos apurados, veio a primeira parcial da apuração que mostrava uma diferença de aproximadamente 5 pontos percentuais entre os candidatos, tendo Dilma a vantagem. Sem dar-se conta de que a apuração acelerada no sistema de voto eletrônico ainda apresentaria uma variável importante, o senador deduziu que a proporção de votos entre os candidatos se manteria naquele patamar até o final.  Convicto, explicitou sua opinião de que as pesquisas e os institutos de opinião prejudicaram o candidato do seu partido e, por isso, deveriam estar sujeitos a regras rígidas e certos impedimentos, no futuro, para evitar que os números previstos induzam o eleitor a votar no candidato que está na dianteira. Nas entrelinhas do seu discurso, a acusação de que os institutos, todos, pareciam estar engajados na campanha de Dilma Roussef, pois previam uma diferença de 10 a 12 pontos percentuais de vantagem para Dilma, o que, para ele, era um exagero absurdo e injustificável. Não percebeu, o senador, que a diferença de horário entre os estados inviabilizava a sua avaliação, posto que a apuração do sul e sudeste, regiões onde Serra teve seu melhor aproveitamento, estava adiantada em uma ou duas horas em relação às outras regiões do país. Da mesma forma, o candidato a vice na chapa tucana, Índio da Costa, no mesmo dia, ao votar, afirmou que as pesquisas estariam erradas e que a diferença seria muito menor, estando indefinido quem seria o próximo presidente do Brasil. 

Álvaro Dias estava enganado, analisou o todo por uma parte, como se o todo resultasse de uma homogeneidade fantástica. Índio mentia, esperando que a sua entrevista pudesse reverter o que os institutos prediziam, seguindo uma estratégia já usada e abusada pelo presidente do PSDB Sérgio Guerra, durante a campanha. Conforme a apuração evoluía, se tornava visível o desconforto de Álvaro Dias, que viu a diferença entre os candidatos alcançar o patamar de 11,5%, a favor de Dilma, confirmando as pesquisas, uma vez que, embora esta diferença esteja ligeiramente abaixo do previsto pela maioria dos institutos, encontra-se dentro da margem de erro que havia sido divulgada às vésperas da eleição. O erro de avaliação é inevitável, muitas vezes; tanto por nossas limitações quanto por nosso desejo de que nossas escolhas e nossas esperanças se concretizem. Álvaro Dias, deixando o seu cinismo costumeiro, me pareceu humano; defendendo suas opiniões e esperanças, faz política. Índio da Costa e Sérgio Guerra, por outro lado, optaram pela mentira, pela simulação, na intenção de induzir o eleitor a acreditar numa farsa que contradizia o que os institutos de pesquisa apresentavam. É claro que Álvaro Dias não proporia qualquer tipo de sanção contra o “Instituto Índio-Guerra de Pesquisa Eleitoral”, mas creio que é neste tipo de “instituto” que o Tribunal Superior Eleitoral deve refletir sobre a possibilidade de aplicação de maiores rigores legais.

É nítido, para a maior parte da população, que esta campanha foi a mais podre da nossa história. Outras campanhas também o foram, mas esta é mais grave porque retoma experiências do passado que não condizem com o nível de civilização que se espera para o século XXI. A mentira, a farsa, a delação, a acusação, a difamação, a calúnia e a manipulação ideológica chegaram a níveis que revigoram práticas passadas da política que atestam o atraso moral e intelectual da política partidária na sua totalidade. Uma campanha feita sem propostas concretas de solução dos problemas que importam para a nação, ficando totalmente ausentes questões importantíssimas relacionadas à cultura ou aos povos indígenas, por exemplo. A educação, que se apresentou como prioridade dos candidatos, ficou resumida a uma educação voltada para a capacitação de seres humanos destinados à produção material de bens, com propostas de escolas técnicas que formam mão de obra para a indústria, para os serviços e para o comércio, como gado, excessivamente devotadas a uma visão tecnocrata de sociedade, quase orwelliana, ou a um passo dela. Não se falou de uma educação voltada para a cidadania, para a formação de uma juventude que precisará construir um mundo democrático, com direitos iguais, respeito às diferenças e possibilidade de acesso aos recursos materiais, intelectuais e éticos que sustentam uma estrutura complexa como a civilização. Uma campanha que não teve o respeito como prática, mas que instrumentalizou a degeneração moral para a tentativa de destruição integral do adversário. Propaganda para os meus e anti-propaganda para os seus – Hitler e Stalin; para os amigos o céu, para os inimigos o inferno - Inquisição; para a minha equipe os louros, para os adversários a boca dos leões – Octavius Augustus e Nero. A política brasileira está com os dois pés enfiados no passado mais sórdido da história. Ainda assim, haverá quem julgue essa condição espúria natural, normal.

Essa campanha reavivou também ódios e preconceitos que estavam escondidos atrás da cortina moral das classes menos miseráveis. Sim, menos miseráveis porque a miséria não se resume às condições financeiras de um indivíduo ou de um grupo; a miséria intelectual, a miséria ética e a miséria afetiva estão mais disseminadas e intensas na sociedade industrial ou pós-industrial do que o dinheiro. Demonstrações de racismo voltaram à tona com uma contundência inesperada. A quantidade de postagens contra nordestinos misturava a insatisfação com a eleição do palhaço Tiririca com a “bolsa-esmola” para os “baianos vagabundos”. A velha política paulista da década de 1930, que se preocupava com a entrada de negros e nordestinos no estado, tentando a todo custo evitar o “escurecimento da pele” da população, se manifestou agora com parte da classe média opinando que “esses baianos precisam ir embora de São Paulo”.

Mensagens orientando o eleitor a não votar em Dilma por causa de declarações pessoais a respeito de aborto, foram fartamente difundidas, endossadas e potencializadas por religiosos que se mostram merecedores de pouca credibilidade, posto que a fé por vezes vira abrigo seguro para a mentira e para o erro. Outras opiniões contrárias a Dilma se justificam por seu passado de militante de movimentos armados que durante a ditadura militar combatiam o Golpe de 64 na clandestinidade. Mensagens difundidas pela internet, em vídeos ou textos, dão a impressão de que o Brasil sob o regime militar era uma espécie de Jardim do Éden que guerrilheiros como Dilma e José Dirceu destruíram. Ora, José Serra, FHC, Aloísio Nunes e outros tantos também agiram e reagiram contra o regime militar. Sobreviveram. Mas há uma diferença de postura entre o PSDB e o PT: FHC renegou inclusive os livros que escreveu quando se exercitava à esquerda da política brasileira, no que parece ter sido seguido por seus confrades de partido, hoje irmanados com os filhotes que deram suporte civil à ditadura dos generais. De outro lado, os seguidores de Lula mantêm o orgulho discreto de quem lutou contra a ditadura. Sobreviveram. Alguns, atualmente, são inclusive parecidos com a burguesia peessedebista, nos métodos e nas ambições. Dá para compreender os casos de corrupção e desvio de dinheiro que envolve muitos petistas, porque o partido acolheu gente de todas as tendências, políticas e morais. Mas ainda é intrigante ver um partido que já se disse “de esquerda”, o PSDB, compactuar com um partido que esteve por duas décadas apoiando as restrições de liberdade de expressão e de opinião, o Democratas (antiga ARENA).

Por fim, é preciso refletir um pouco sobre os meios de comunicação. Ainda não conheço análises mais valiosas para entender o funcionamento dos meios de comunicação que rebatam com segurança pontos de vista como os de Jean Baudrillard, Umberto Eco, Octavio Ianni ou Pierre Bourdieu, por exemplo. Minha própria experiência, como profissional de comunicação, me fornece as bases que me levam a concordar com as teses desses filósofos que se ocuparam com a análise da área em que atuo. A mídia é uma parte importante da estrutura que mantém a sociedade mais ou menos coesa. Assurbanipal pode ser o inaugurador da história da mídia; ele é o primeiro rei a utilizar o poder da comunicação como instrumento político nos moldes em que hoje entendemos esta relação. Ele a usou não apenas como instrumento administrativo, mas como arma de conquista.

A propaganda política é um prato cheio para os especialistas de diversas áreas. Tudo pode se dizer a respeito de propaganda política, exceto que ela tenha uma relação estreita com a realidade. É à mentira que se devem os grandes êxitos da propaganda política – vide Goebbels, George W. Bush, Salazar, etc. Raramente a mentira dos publicitários políticos deixa de influenciar os grandes veículos de comunicação. Há, nesta associação, pressões e interesses que são maiores do que a verdade. A mentira é um instrumento capaz de fazer nações inteiras se sensibilizarem a ponto de apoiar políticas criminosas, como as faxinas étnicas, as guerras religiosas e a manutenção do poder das classes hegemônicas. Os efeitos nocivos da propaganda política e seus agentes são claros e visíveis nos países mais miseráveis do planeta, e também nos mais ricos. A associação da mentira com a comunicação é um câncer que corrói internamente as estruturas de sociedades que caminham na mais perfeita direção da deterioração social, econômica, cultural e humana. Não existe país civilizado, verdadeiramente civilizado, que tolere a dependência da informação, que é um bem público, em relação às instâncias empresariais ou políticas do país. Os meios de comunicação precisam ser independentes; sem essa independência e sem o exercício ético das profissões que lhes dão vida, a história se torna uma ficção perigosa e danosa. Mas o modelo industrial de imprensa que abastece a nossa sociedade de notícias sempre dependeu do empresariado, seus anunciantes, e da classe publicitária, os intermediários. Os governantes também são anunciantes; e têm seus intermediários fazendo a ponte com os veículos de comunicação. As relações entre estas três instâncias – governo, intermediários e veículos de comunicação -, apesar de serem normalmente cordiais, tendem a ser assimétricas: quem detém o que é mais valioso – influência - tem maior poder. E mais dinheiro. Fora desse círculo vicioso e viciante do poder, a sociedade mal informada responde às informações: um escândalo aqui e outro ali – em alguns casos, arranjados para beneficiar ou prejudicar um político, um empresário, uma figura pública ou um anônimo; um novo ídolo do futebol ou das artes – normalmente financiados por capitalistas que atuam nas sombras do esporte ou do showbiz; um cacique político que emerge num partido – normalmente um capitalista que detém tanto poder econômico que é capaz de conseguir dinheiro para a sua eleição; etc. As notícias, mesmo quando frescas, transpiram suas intenções. Só quem é capaz de ler essas transpirações poderá suspeitar da realidade, porque como informa Morpheus, em The Matrix, parafraseando Baudrillard, vivemos uma realidade virtual no “deserto do real”, mas de corpo e alma. Os meios de comunicação são geradores e suportes, ao mesmo tempo,  da “Matrix” dos irmãos Wachowski, são o “cavalo incorporador” do obscuro Príncipe Eletrônico de Octavio Ianni, presentificam a Irrealidade Cotidiana de Umberto Eco, abrigam milhares dos insetos de Kafka, são submundos onde Bourdieu encontrou o fantasma que assombrava George Orwell, e são a usina de compostagem cujo triturador principal é o “buraco negro” apontado por Baudrillard.

Esse texto poderia se extender muito mais, mas a internet é, caracteristicamente, a mídia dos leitores preguiçosos, das pessoas que formam rapidamente uma opinião sem precisar de muitas informações. O leitor padrão da internet não chegará até aqui, deve ter parado no primeiro parágrafo. Outra hora eu retomo essa conversa e de como os robôs utilizados pelo PSDB enviaram milhares de notícias e comentários por meio das redes sociais, segundo um comentário feito por uma pessoa que trabalhou na campanha de Serra. Antes de comentar, preciso de informações que me assegurem de que isso é verdade.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Credibilidade e ética

A atual campanha eleitoral está deixando um rastro de destruição na reputação de muitas pessoas. A forma como  a imprensa lida com os candidatos é, declaradamente, parcial. A falta de isenção e o tratamento assimétrico por parte da imprensa não é crime, nem é ético. Parte da imprensa tucanou de vez. Saiu do muro.

Qualquer ser humano que se envolva com política precisa estar preparado para o pior. Precisa ter sangue frio, saber se esquivar, negociar, mentir. A política é uma arte. A comunicação também. Talvez por isso essas duas "artes" andem de mãos dadas há tanto tempo. Vejam sobre a Agitprop dos intelectuais bolcheviques. Vejam o Cidadão Kane, de Orson Welles, encarnando o magnata das media Randolph Hearst. Vejam as teorias e as aplicações de Goebbels que levaram o nacional-socialismo de Hitler ao poder na Alemanha. Vejam as relações entre Dick Cheney e George W. Bush com Rupert Murdoch. Para não estender demais a lista, vejamos Berlusconi, magnata das media e primeiro ministro da Itália. Cá, no Brasil, tirando o fato de que muitos dos veículos de comunicação pertencem a políticos, notamos que personagens das media buscam oportunidades também no campo da política.

Entretanto, o fato que nos interessa neste texto, é a capacidade de exercer a política e a comunicação com maestria, com "arte". Não podemos deixar de notar que os veículos de comunicação mais importantes do Brasil têm extrema competência em atingir esse patamar, essa condição de "arte". Há uma aparente infinita capacidade, nesses veículos, de gerar notícias, de produzir informação, tudo dentro do mais alto conceito de credibilidade, perante o público.

Tenho para mim que o maior patrimônio que uma empresa de comunicação pode ter é a credibilidade. Mesmo a menor empresa de comunicação, que é o profissional autônomo, necessita de credibilidade e perícia no seu ofício. A credibilidade fez os Hearsts, os Berlusconi, os Goebbels e os Murdoch. Sem credibilidade o homem de comunicação não alcança a sintonia necessária para que o público lhe reconheça com valor.

A credibilidade pode ser alcançada por meio da ética, como resultado do esforço e da consciência profissional, com responsabilidade, com dedicada honestidade, com a verdade. Mas a credibilidade também pode ser alcançada por meio da mentira. Vi e vivi situações em que pessoas absolutamente desconhecedoras de questões fundamentais ao ofício se apresentaram como profundos conhecedores, especialistas, com expertise verbal suficiente para impressionar os incautos, ingênuos e ignorantes. Vi, por exemplo, um "designer" vender a logomarca da Editora Globo para dois empresários que se consideram absolutamente "espertos" e "bem informados". Ao informar que estavam comprando gato por lebre, percebi que a credibilidade do "designer" era inabalável, a minha não. Depois que foi constatado que eu tinha razão, solicitaram outra logomarca. O "designer", finalmente, vendeu a logomarca da Rede Globo com uma pequena alteração: no lugar do retângulo recortado no centro da esfera maior, o cara pôs um triângulo. Para não ficar tão parecida com a logomarca da Rede Globo, o cara manteve os rasgos paralelos em diagonal na face da esfera, como havia na imagem da Editora Globo. Essa logomarca ainda é utilizada pela emissora que solicitou o trabalho do "designer".

Voltando ao problema da destruição de reputações numa campanha eleitoral, a credibilidade dos veículos de comunicação é quase inquestionável. O poder de persuasão sobre leitores, ouvintes e telespectadores é arrebatador, se aproxima do cenário profetizado por George Orwell, em 1984. Talvez seja este o nosso destino. É já bastante óbvio que a perda de credibilidade entre os políticos chegou a um nível em que, sem a imprensa, fazer política, e sobretudo campanha política, é impossível sem a credibilidade dos veículos de comunicação. Ao cidadão comum, a democracia é inacessível justamente por isso: os meios de comunicação lidam com os ricos e famosos. Os pobres são anônimos, ou são apenas os quase anônimos das páginas de mundo-cão. Mas isso não perturba a credibilidade da democracia que, possivelmente, caminha para a ditadura deslavada das classes hegemônicas, a classe dos ricos e famosos.

O que me despertou a vontade de escrever este hipertexto foi a leitura de um texto publicado pela Folha de São Paulo que reproduzo abaixo:

"Nem estudando, nem trabalhando. Mais de dois em cada dez jovens brasileiros entre 18 e 20 anos se encontravam nessa espécie de limbo em 2009, à margem da crescente inclusão educacional e laboral registrada no país em anos recentes, informa reportagem de Érica Fraga para a Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal). 
Essa geração "nem-nem" (tradução livre do termo ni-ni, "ni estudian ni trabajan", usado em espanhol) representa uma parcela crescente dos jovens de 18 a 20 anos. Eram 22,5% dessa faixa etária em 2001 e 24,1% em 2009 (o equivalente a 2,4 milhões de pessoas).
Nesse mesmo período, a taxa de desemprego no país recuou de 9,3% para 8,4%. Os dados são da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e foram levantados pelo pesquisador Naercio Menezes Filho, do Centro de Políticas Públicas do Insper.
Segundo especialistas, essa tendência é resultado de várias causas. Entre elas, paradoxalmente, o maior aquecimento no mercado de trabalho --que tem acirrado a competição-- e o aumento significativo de transferências do governo para famílias de renda mais baixa."(

Após ler o texto, refleti apenas por alguns segundos e cheguei à conclusão de que o texto passa uma informação duvidosa por meios artificiosos. A credibilidade do veículo chegou a um patamar em que já lhe é possível mentir. A tática goebbeliana de vencer uma verdade com mil mentiras já é desnecessária. Uma mentira se transforma em verdade quando a credibilidade é inquestionável. Por que a notícia da Folha é mentirosa? Ora, todos sabemos que jovens do sexo masculino nesta faixa etária têm mesmo dificuldade para se empregar. Todos estão alistados para o serviço militar e as empresas dificilmente os contratam com carteira assinada. Há empresas que assumem o risco de contratar jovens nessa idade, mas esse não é o procedimento das indústrias. Todos sabemos que o mercado informal, sem registro em carteira, oferece, no mais das vezes, possibilidades de ganhos superiores ao trabalho formal: um camelô ou um vendedor de hot dog ganha mais do que muitos empregados no comércio e no setor de serviços. Quanto ganha mesmo um atendente do McDonald´s?

O problema da matéria é indicar que "Segundo especialistas, essa tendência é resultado de várias causas. Entre elas, paradoxalmente, o maior aquecimento no mercado de trabalho --que tem acirrado a competição-- e o aumento significativo de transferências do governo para famílias de renda mais baixa". Assim, a matéria induz o leitor a acreditar que o bolsa-família cria desocupados. Anestesiado em sua capacidade de observar sua própria história de vida, o leitor esquece que passou pelo drama do desemprego quando jovem, e que esse desemprego era motivado pela situação indefinida em relação ao serviço militar. Absolutamente crente nos "especialistas" que a matéria menciona, o leitor não questiona o veículo: "quem são os especialistas, eles têm nome, em que são especialistas, onde se formaram?". Satisfeito com a matéria, o leitor não precisa buscar outras informações, o que sabe já é suficiente. Mas o leitor curioso não está ainda satisfeito. Por acaso, no mesmo veículo, encontra uma matéria que parece contradizer o panorama negativo que a primeira cria:

"O medo do desemprego nunca estava tão em baixa no país, segundo pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Para ela, o bom desempenho da economia aumentou a confiança dos brasileiros no emprego. O índice que mensura o medo caiu para 81,1 pontos em setembro deste ano, de acordo com a pesquisa trimestral divulgada nesta quarta-feira.
O índice de setembro, que recuou 1,5% em relação ao de junho, é o menor desde maio de 1996, quando começou a pesquisa, em que quanto menor a pontuação maior é a confiança na preservação do emprego.
"A queda na pontuação registrada em setembro é resultado do aumento do número de pessoas otimistas em relação ao emprego", afirma a pesqauisa. Em setembro, 55% dos entrevistados disseram não temer ficar sem trabalho. Foi o terceiro trimestre consecutivo em que mais da metade dos brasileiros afirmou não estar com medo do desemprego. Outros 30% disseram ter pouco medo e 15% afirmaram ter muito medo do desemprego.
Segundo o gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, a avaliação otimista da população reflete as condições favoráveis do mercado de trabalho. "A economia retomou o crescimento e as taxas de desemprego das principais regiões metropolitanas estão entre as mais baixas da história", explica Castelo Branco.
Segundo ele, o Índice de Medo do Desemprego deve manter-se nesse patamar até o final deste ano e ao longo de 2011. Isso porque tudo indica que o ritmo de crescimento da economia continuará elevado, garantindo a expansão da oferta de empregos." (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/813901-medo-do-desemprego-atinge-o-menor-patamar-historico-aponta-cni.shtml)

Opa! Parece que agora temos nomes, instituições com nome, especialistas com nome. Não se trata da mesma notícia escrita com outras tintas, obviamente. Mas o cenário geral, mais amplo, contraria o cenário particular de uma notícia cuja pesquisa será absolutamente falha, se não considerar a variável do alistamento e outras ainda. A falta de qualificação que assombra os jovens das classes mais pobres, vitimados pela ineficiência de uma educação sistematicamente sucateada, tende a levá-los tanto ao mercado de trabaho dos salários baixos e da falta de perspectiva profissional, quanto ao mercado informal. Alguns preferem uma carreira no submundo do crime.

Não acredito que o pesquisador do Insper tenha feito a mesma análise que a Folha apresenta sobre a sua pesquisa. Me parece que a matéria distorce as causas enquanto mostra os fatos. É uma operação quase sutil, para quem não estuda atentamente a comunicação. É uma forma de usar dados verazes para produzir uma mentira. A Folha se utiliza da credibilidade de notáveis jornalistas e articulistas que fazem parte do seu quadro para divulgar notícias mentirosas com intenções nitidamente políticas.

O problema que causa o desemprego entre os jovens produz toda uma cadeia de efeitos, entre os quais, a dificuldade do jovem prosseguir estudando depois de formar-se no nível médio. Posso afirmar, a partir da minha experiência pessoal, pelo que vivo e vejo: o problema é complexo e não envolve apenas política, mas ideologias de RH e empregadores, além de problemas econômicos nas comunidades carentes que fazem com que o jovem desempregado não tenha dinheiro para condução.

A união entre política e comunicação também tem mil faces, algumas positivas e outras negativas, algumas propositivas, outras nocivas. Políticos são eleitos pelo povo para trabalhar por melhorias para o conjunto da sociedade; no entanto, o que vemos é muito idiota eleito se transformar em "autoridade", o que configura o mais infeliz exercício de vaidade. E, quanto mais distante do povo que o elegeu, e mais próximo da casta de empresários e lobistas que o cercam, mais importante o político se sente. Na verdade, um bosta; não atende a sociedade, mas a "sociedade". E quanto mais atende a "sociedade", mais visilbilidade tem. Porque aparece em revistas de lobistas, jornais de lobistas, televisões de lobistas, rádios de lobistas. É um bosta, mas é sempre solicitado a dar opiniões, participar de julgamentos, emitir sentenças, passar final de semana na Ilha do bosta, eleger a miss, bradar em defesa da democracia e da credibilidade das instituições públicas e privadas.

É aí que a confusão está exposta de forma irreversível: o homem eleito pelo povo já não pertence apenas ao território da política, mas da comunicação. Ele é Relações Públicas de si mesmo e da sua casta; ele faz a Publicidade e a Propaganda de si mesmo e dos seus pares; ele é o Marketing mais formidável dos grandes projetos da "sociedade"; ele é o Garoto Propaganda do Partido e dos Ricos e Famosos. Por fim, ele é o grande Jornalista: ao mesmo tempo em que É a própria notícia, ele a divulga; e produz novas notícias, por meio da invenção e por meio da elaboração. O bosta torna-se um técnico competente nos domínios da comunicação. A política era apenas uma escada para a sua ambiciosa vaidade de tornar-se demiurgo. Já não sabe usar outro verbo, a não ser EU. Basta acrescentar três letras para a sua realização final, para a sua auto-consagração. Por meios muitas vezes obscuros, o bosta consegue fazer seguidores, aumenta seu poder. Torna-se tão influente que os profissionais de comunicação o temem, lhe obedecem, reproduzem no impresso o seu texto ideológico. Os profissionais temem perder o emprego, se calam, se escondem e guardam a ética numa gaveta bem tímida. Esperam que o bosta passe, com uma enchente, com um furacão ou com uma revolução.

Comunicação é política pública. Política partidária deve ser vista com desconfiança pelos profissionais de comunicação. Isso é uma exigência da ÉTICA. Mesmo sob o risco de perder o emprego. O pior vexame para um ser humano é perder sua credibilidade ao se subordinar a um bosta. Um ser humano sem credibilidade é um cu andando num mar de bostas. Para manter a credibilidade, de verdade, é preciso preservar a ética. A Folha não tem ética; a auto-afirmação recorrente da sua credibilidade é o maior sinal do fantasma de Goebbels na Barão de Limeira..

sábado, 16 de outubro de 2010

Manifesto em Defesa da Educação Pública

O texto a seguir é a reprodução do manifesto assinado por professores de diversas instituições de ensino, públicas e privadas:

"Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.

Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.

Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.

Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.

Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.

No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.



Fábio Konder Comparato, USP; Carlos Nelson Coutinho, UFRJ; Marilena Chaui, USP; Otávio Velho, UFRJ; Ruy Fausto, USP; João José Reis, UFBA; Joel Birman, UFRJ; Dermeval Saviani, Unicamp; Emilia Viotti da Costa, USP; Renato Ortiz, Unicamp; João Adolfo Hansen, USP; Flora Sussekind, Unirio; Maria; Victoria de Mesquita Benevides, USP; Laymert Garcia dos Santos, Unicamp; Franklin Leopoldo e Silva, USP; Ronaldo Vainfas, UFF; Otavio Soares Dulci, UFMG; Theotonio dos Santos, UFF; Wander Melo Miranda, UFMG; Glauco Arbix, USP; Enio Candotti, UFRJ; Luis Fernandes, UFRJ; Ildeu de Castro Moreira, UFRJ; José Castilho de Marques Neto, Unesp; Laura Tavares, UFRJ; Heloisa Fernandes, USP; José Arbex Jr., PUC-SP; Emir Sader, UERJ; Leda Paulani, USP; Luiz Renato Martins, USP; Henrique Carneiro, USP; Antonio Carlos Mazzeo, Unesp; Caio Navarro de Toledo, Unicamp; Celso Frederico, USP; Armando Boito, Unicamp; João Quartim de Moraes, Unicamp; Flavio Aguiar, USP ; Wolfgang LeoMaar, UFSCar; Scarlett Marton, USP; Sidney Chalhoub, Unicamp; Léon Kossovitch, USP; Angela Leite Lopes, UFRJ; Benjamin Abdalla Jr., USP; Marcelo Perine, PUC-SP; José Ricardo Ramalho, UFRJ; Celso F. Favaretto, USP; Ivana Bentes, UFRJ ; Irene Cardoso, USP; Vladimir Safatle, USP; Peter Pal Pelbart, PUC- SP; Gilberto Bercovici, USP; Consuelo Lins, UFRJ; Afrânio Catani, USP; Liliana Segnini, Unicamp; José Sérgio F. de Carvalho, USP; Eliana Regina de Freitas Dutra, UFMG; Sergio Cardoso, USP; Maria Lygia Quartim de Moraes, Unicamp; Vera da Silva Telles, USP; Juarez Guimarães, UFMG ; Ricardo Musse, USP; Sebastião Velasco e Cruz, Unicamp; Maria Ligia Coelho Prado,USP; Federico Neiburg, UFRJ; José Carlos Bruni, USP; Ligia Chiappini, Universidade Livre de Berlim; Sérgio de Carvalho, USP; Marcos Dantas, UFRJ; Luiz Roncari, USP; Giuseppe Cocco, UFRJ; Eleutério Prado, USP; Walquíria Domingues Leão Rego, Unicamp ; Marcos Silva, USP; Luís Augusto Fischer, UFRS; Edilson Crema, USP; Rosa Maria Dias, Uerj; José Jeremias de Oliveira Filho, USP; Evando Nascimento, UFJF; Adélia Bezerra de Meneses, Unicamp; Iumna Simon, USP; Elisa Kossovitch, Unicamp; Cilaine Alves Cunha, USP; Ladislau Dowbor, PUC-SP; Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos, USP; Lucilia de Almeida Neves, UnB; Bernardo Ricupero, USP; Gil Vicente Reis de Figueiredo, UFSCar; Lincoln Secco, USP; Jacyntho Lins Brandão, UFMG; Marcio Suzuki, USP ; José Camilo Pena, PUC-RJ; Joaquim Alves de Aguiar, USP; Eugenio Maria de França Ramos, Unesp; Alessandro Octaviani, USP; Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida, PUC-SP; Mauro Zilbovicius, USP; Rodrigo Duarte, UFMG; Jorge Luiz Souto Maior, USP; Francisco Foot Hardman, Unicamp; Paulo Nakatani, UFES; Helder Garmes, USP; Marly de A. G. Vianna, UFSCar; Maria Lúcia Montes, USP; Adriano Codato, UFPR; Ana Fani Alessandri Carlos, USP; Denilson Lopes, UFRJ; Ricardo Nascimento Fabbrini, USP; Paulo Silveira, USP; Ernani Chaves, UFPA; Mario Sergio Salerno, USP ; Evelina Dagnino, Unicamp; Zenir Campos Reis, USP ; Marcos Siscar, Unicamp; Sean Purdy, USP; Liv Sovik, UFRJ; Christian Ingo Lenz Dunker, USP; João Roberto Martins Filho, UFSCar; Marcus Orione, USP; Carlos Ranulfo, UFMG; Gustavo Venturi, USP; Nelson Cardoso Amaral, UFG; Amaury Cesar Moraes, USP; Silvia de Assis Saes, UFBA; Flavio Campos, USP; Anselmo Pessoa Neto, UFG; Vinicius Berlendis de Figueiredo, UFPR; Marta Maria Chagas de Carvalho, USP; Francisco Rüdiger, UFRS; Maria Augusta da Costa Vieira, USP; Rubem Murilo Leão Rego, Unicamp; Nelson Schapochnik, USP; Maria Helena P. T. Machado, USP; Elyeser Szturm, UnB; Luiz Recaman, USP; Reginaldo Moraes, Unicamp; Iram Jácome Rodrigues, USP; Alysson Mascaro, USP; Roberto Grun, UFSCar; Paulo Benevides Soares, USP; Edson de Sousa, UFRGS; Analice Palombini, UFRS; Márcia Cavalcante Schuback, UFRJ; Luciano Elia, Uerj; Marcia Tosta Dias, Unifesp; Paulo Martins, USP ; Julio Ambrozio, UFJF; Salete de Almeida Cara, USP; Oto Araujo Vale, UFSCar; Iris Kantor, USP; João Emanuel, UFRN; Francisco Alambert, USP; José Geraldo Silveira Bueno, PUC-SP; Marta Kawano, USP; José Luiz Vieira, UFF; Paulo Faria, UFRGS; Ricardo Basbaum, Uerj; Fernando Lourenço, Unicamp; Luiz Carlos Soares, UFF; André Carone, Unifesp; Adriano Scatolin, USP; Richard Simanke, UFSCar; Arlenice Almeida, Unifesp; Miriam Avila, UFMG; Sérgio Salomão Shecaira, USP; Carlos Eduardo Martins, UFRJ; Antonio Albino Canelas Rubim, UFBA.; Eduardo Morettin, USP; Claudio Oliveira, UFF; Eduardo Brandão, USP; Jesus Ranieri, Unicamp; Mayra Laudanna, USP; Aldo Duran, UFU; Luiz Hebeche, UFSC; Adma Muhana, USP ; Fábio Durão, Unicamp; Amarilio Ferreira Jr., UFSCar; Marlise Matos, UFMG; Jaime Ginzburg, USP; Emiliano José, UFBA; Ianni Regia Scarcelli, USP; Ivo da Silva Júnior, Unifesp; Mauricio Santana Dias, USP; Adalberto Muller, UFF; Cláudio Oliveira, UFF; Ana Paula Pacheco, USP ; Sérgio Alcides, UFMG; Heloisa Buarque de Almeida, USP; Romualdo Pessoa Campos Filho, UFG; Suzana Guerra Albornoz, UNISC/RS; Bento Itamar Borges, UFU; Tânia Pellegrini, UFSCar; Sonia Campaner, PUC-SP; Luiz Damon, UFPR; Eduardo Passos, UFF; Horácio Antunes, UFMA; Laurindo Dias Minhoto, USP; Paulo Henrique Martinez, Unesp; Igor Fuser, Faculdade Cásper Líbero; Rodnei Nascimento, Unifesp; José Paulo Guedes Pinto, UFRRJ; Herculano Campos, UFRN; Adriano de Freixo, UFF; Alexandre Fonseca, UFRJ; Raul Vinhas Ribeiro, Unicamp; Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo, Uerj; Carmen Gabriel, UFRJ; Ana Gonçalves Magalhães, USP; Regina Mennin, Unifesp; Regina Pedroza, UnB; Regina Vinhaes Gracindo, UnB; Elina Pessanha, UFRJ; Elisa Maria Vieira, UFMG; Reinaldo Martiniano, UFMG; Freda Indursky, UFRGS; Frederico Carvalho, UFRJ; Renata Paparelli, PUC-SP; Renato Lima Barbosa, UEL; Antonio Prado, Unicamp; Antonio Teixeira, UFMG; Aparecida Neri de Souza, Unicamp; Ricardo Barbosa de Lima, UFG; Ricardo Kosovski, UNIRIO; Ricardo Mayer, UFAL; Rita Diogo, UERJ; Adalberto Paranhos, UFU; Adalton Franciozo Diniz, PUC-SP; Alcides Fernando Gussi, UFC; Aldo Victorino, UERJ; José Guilherme Ramos,  Unincor; Alex Fabiano Jardim, Unimontes; Alexandra Epoglou, UFU; Alexandre Henz, Unifesp; Alfredo Cordiviola, UFPE; Alícia Gonçalves, UFPB; Alita Sá Rego, UERJ; Alvaro Luis Nogueira, CEFET/RJ; Amaury Júnior, UFRJ; Amilcar Pereira, UFRJ; Amon Pinho, UFU; Ana Maira Coutinho, PUC-Minas; Ana Maria Araújo Freire, PUC/SP; Ana Maria Chiarini, UFMG; Ana Maria Doimo, UFMG; Ana Maria Medeiros, UERJ; André Daibert, CEFET/RJ; André Figueiredo, UFRRJ; André Leclerc, UFC; André Martins, UFRJ; André Paulo Castanha, Unioeste; Andrea Franco, PUC-Rio; Andrea Macedo, UFMG; Andrea Silva Ponte, UFPB; Angela Prysthon, UFPE; Angelita Matos Souza, Facamp; Angelita Pereira de Lima, UFG; Aníbal Bragança, UFF; Anita Leandro, UFRJ; Anna Carolina Lo Bianco, UFRJ; Antonio Carlos Lima, UFRJ; Antônio Cristian Saraiva Paiva, UFC; Antonio Justino Ruas Madureira, UFU; Antonio Pinheiro de Queiroz, UnB; Armen Mamigonian, USP; Benito Bisso Schmidt, UFRGS; Benjamin Picado, UFF; Branca Jurema Ponce, PUC/SP; Brasilmar Nunes, UFF; Bruna Dantas, Univ. Cruzeiro do Sul; Bruno Guimarães, UFOP; Carla Dias, UFRJ; Carlos Bauer, Uninove; Carlos José Espíndola, UFSC; Carolina Martins Pulici, Centro Universitário Senac; Cauê Alves, PUC-SP; Celia Rocha Calvo, UFU; César Barreira, UFC; César Nigliorin, UFF; Clara Araujo, UERJ; Clarice Mota, UFAL; Claudinei Silva, Unioeste; Claudio Benedito Baptista Leite, Unifesp; Cláudio DeNipoti, UEPG; Cleber Santos Vieira, Unifesp; Custódia Selma Sena do Amaral, UFG; Daniela Frozi, UERJ; Daniela Weber, FURG; Daniele Nilym, UFC; Dau Bastos, UFRJ; Débora Barreto, UCM; Debora Breder, UCM; Débora Diniz, UnB; Denise Golcalves, UFRJ; Diva Maciel, UnB; Doris Accioly, USP; Doris Rinaldi, Uerj; Douglas Barros, PUC-Campinas; Edgar Gandra, UFPel; Edson Arantes Junior, UEG; Eduardo Sterzi, FAAP; Elizabeth Maria Azevedo Bilange, UFMS; Emerson Giumbelli, UFRGS; Ercília Cazarin, Univ. Passo Fundo; Ernesto Perini, UFMG; Eugênio Rezende de Carvalho, UFG; Fabiana de Souza, UFG; Fabiele Stockmans, UFPE; Fábio Franzini, Unifesp; Fernanda dos Santos Castelano Rodrigues, UFSCar; Fernando Fragozo, UFRJ; Fernando Freitas, UERJ; Fernando Resende, UFF; Fernando Salis, UFRJ; Filipe Ceppas, UFRJ; Flavio Fogliatto, UFRGS; Geísa Matos, UFC; George Lopes Paulino, UFC; Geovane Jacó, UECE; Geraldo Orthof ,UnB; Geraldo Pontes Jr., UERJ; Gesuína Leclerc, UFC; Gilberto Almeida, UFBA; Gilson Iannini, UFOP; Giselle Martins Venancio, UFF; Gizelia Maria da Silva Freitas, UFPA; Graciela Paveti, UFMG; Gustavo Coelho, UERJ; Gustavo Krause, UERJ; Hélio Carlos Miranda de Oliveira, UFU; Hélio Silva, UFSC; Henri Acselrad, UFRJ; Henrique Antoun, UFRJ; José Carlos Prioste, Uerj; José Carlos Rodrigues, PUC – Rio; José Claudinei Lombardi, Unicamp; Henrique Antoun, UFRJ; Henrique de Paiva, Uninove; Humberto Hermenegildo de; Araújo, UFRN; Ianni Scarcelli, USP; Irlys Barreira, UFC; Isaurora Cláudia Martins, UVA; Ivan Rodrigues Martin, Unifesp ; Izabela Tamaso, UFG; Jackson Aquino, UFC; Jacqueline Girão Lima, UFRJ; Jacqueline O.L. Zago, UFTM; Janete M. Lins de Azevedo, UFPE; Jania Perla Diógenes de Aquino, UFC; Joana Bahia, UERJ; Joelma Albuquerque, UFAL; John Comerford, UFRRJ; Jorge Valadares, Fund Oswaldo Cruz; José Artur Quilici Gonzalez, UFABC; José Lindomar Albuquerque, UNIFESP; José Luiz Ferreira, UFERSA; José Messias Bastos,UFSC; José Otávio Guimarães, UnB; José Ubiratan Delgado, IRD- CNEN; Joziane Ferraz de Assis, UFV; Kátia Paranhos, UFU; Kelen Christina Leite, UFSCar; Laura Feuerwerker, USP; Leandro Lopes Pereira de Melo, Centro Universitário Senac; Simone Wolff, UEL; Solange Ferraz de Lima, USP; Sônia Maria Rodrigues, UFG; Lena Lavinas, UFRJ; Leonardo Daniato, UniFor; Lia Tomas, Unesp; Liliam Faria Porto Borges, UNIOESTE; Lúcia Maria de Assis, UFG; Lucia Pulino, UnB; Luciana Hartmann, UnB; Luciano Mendes de Faria Filho, UFMG; Luciano Rezende, Instituto Federal de Alagoas; Luciano Simão, UFF; Luís Filipe Silvério Lima, Unifesp ; Luis Mattei, UFF; Luiz Fábio Paiva, UFAM; Luiz Paulo Colatto, CEFET-RJ; Luiz Sérgio Duarte da Silva, UFG; Madalena Guasco Peixoto, PUC-SP; Marcelo Carcanholo, UFF ; Marcelo de Sena, UFMG; Marcelo Martins de Sena, UFMG; Marcelo Paixão, UFRJ; Marcelo Pinheiro, UFU; Marcia Angela Aguiar, UFPE; Marcia Cristina Consolim, Unifesp; Márcia Maria Menendes Motta, UFF; Marcia Paraquett, UFBA; Marcio Galdman, UFRJ; Marco André Feldman Schneider, UFF; Marcos Aurélio da Silva, UFSC; Marcos Barreto, UFRJ; Marcos Cordeiro Pires, Unesp ; Marcos Santana de Souza, UFS; Marcus Wolff , UCM; Maria Amélia Dalvi, UFES; Maria Aparecida Leite Soares, Unifesp; Maria Augusta Fonseca, USP; Maria Cristina Batalha, UERJ; Maria Cristina Giorgi, CEFET- RJ; Maria Cristina Volpi, UFRJ; Mônica de Carvalho, PUC-SP; Natalia Reis, UFF; Neide T. Maia González, USP; Nelson Maravalhas, UnB; Nelson Tomazi, UEL; Maria de Fátima Gomes, UFRJ; Maria Fernanda Fernandes, Unifesp; Maria Jacqueline Lima, UFRJ; Maria José Aviz do Rosário, UFPA; Maria José Vale, Unicastelo; Maria Lúcia Homem, FAAP; Maria Lúcia Seidl, UERJ; Maria Luiza de Oliveira, Unifesp; Maria Luiza Heilborn, UERJ; Maria Neyara de Oliveira Araújo, UFC; Maria Rita Aprile, Uniban; María Zulma M. Kulikowski, USP; Mariana Cavalcanti, FGV-RJ; Marisa Bittar, UFSCar; Markus Lasch, Unifesp; Marlon Salomon, UFG; Marly Vianna, UFSCar; Márnio Pinto, UFSC; Marta Peres, UFRJ; Marta Pinheiro, UFRJ; Mary Castro, UCSal; Miroslav Milovic, UnB; Edson Arantes Jr., UERJ; Moema Rebouças, UFES; Monica Alvim, UFRJ; Monica Bruckmann, UFRJ ; Nereide Saviani, Unisantos; Neusa Maria Dal Ri, Unesp; Nina Leite, Unicamp; Nise Jinkings, UFSC; Nora Krawczyk, Unicamp; Olga Cabrera, UFG; Olgamir Amancia Ferreira de Paiva, UnB; Ovídio de Abreu, UFF; Patrícia Reinheimer, UFRRJ; Patrícia Sampaio, UFAM; Paulino José Orso, Unioeste; Paulo Bernardo Ferreira Vaz, UFMG; Paulo Machado, UFSC; Paulo Pinheiro Machado, UFSC; Paulo Roberto de Almeida, UFU; Rafael Haddock-Lobo, UFRJ; Ramón Fernandez, FGV-SP; Raul Pacheco Filho, PUC-SP; Rita Schmidt, UFRGS; Robespierre de Oliveira, UEM; Rodrigo Nobile, UERJ; Rogério Medeiros, UFRJ; Ronaldo Gaspar, Unicastelo; Rosana C. Zanelatto Santos, UFMS; Rosana Costa, UFRJ; Rosemary de Oliveira Almeida, UECE; Sabrina Moehlecke, UFRJ; Sara Rojo, UFMG; Sarita Albagli, UFRJ; Sidnei Casetto, Unifesp; Silviane Barbato, UnB; Silvio Costa, PUC/GO; Simone Michelin, UFRJ; Suzzana Alice Lima Almeida, UNEB; Sylvia Novaes, USP; Tadeu Alencar Arrais, UFG; Tadeu Capistrano, UFRJ; Tania Rivera, UnB; Tatiana Roque, UFRJ; Telma Maria Gonçalves Menicucci, UFMG; Tercio Redondo, USP; Théo Lobarinhas Piñeiro, UFF; Tomaz Aroldo Santos, UFMG; Valdemar Sguissardi, UFSCar; Vera Chuelli, UFPR; Vera Figueiredo, PUC-Rio; Victor Hugo Pereira, UERJ; Viviane Veras, Unicamp; Volnei Garrafa, UnB; Wagner da Silva Teixeira, UFTM; Waldir Beividas, USP; Wilson Correia, UFRB; Adriano de Freixo, Universidade Federal Fluminense; Andre Gunder Frank, UFF ; Flávia Nascimento, UNESP; Graziela Serroni Perosa, EACH/USP; Gustavo Caponi, Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC; Helena Esser dos Reis, UFG; Jaime Rodrigues, Universidade Federal de São Paulo/Unifesp; Jaqueline Kalmus, UniFIEO; Joana Ziller – Universidade Federal de Ouro Preto/UFOP; Juliana Tavares, IFF; Luis Guilherme Galeão da Silva, USP; Luiz Mariano Carvalho, UERJ; Maria Margareth de Lima, UFPB ; Maria Waldenez de Oliveira, UFSCAR; Nelson Schapochnik, USP; Paulo Rodrigues Belém, PUC/Rio de Janeiro; Rita Fagundes, UFS ; Tercio Loureiro Redondo, USP; Valéria Vasconcelos, UNIUBE/MG; Ana Paula Cantelli Castro, Universidade Federal do Piauí/UFP; Hélio Lemos Sôlha – Professor, UNICAMP ; Pedro C. Chadarevian, UFSCAR; Ivaldo Pontes Filho, UFPE; Ricardo Summa, UFRRJ; Ernesto Salles, UFF; Sidney Calheiros de Lima, USP; Claudia Moraes de Souza, Unesp/Marília; Estêvão Martins Palitot, Universidade Federal da Paraíba/UFB; Lilian Sagio Cezar, USP; Gislene Aparecida dos Santos, EACH – USP; Eliézer Cardoso de Oliveira, Universidade Estadual de Goiás; Luiz Menna-Barreto, EACH/USP; Raquel Alvarenga Sena Venera, UFSC; Aida Marques, Universidade Federal Fluminense; Cleria Botelho da Costa, UnB; Ernestina Gomes de Oliveira, Faculdade de Direito do Instituto Superior de Ciências Aplicadas de Limeira; Kátia Menezes de Sousa, Universidade Federal de Goiás ; Aluizio Moreira, UFCG; Luiz Gonzaga Godoi Trigo, EACH/USP; Lucas Bleicher, UFMG; Luiz Carlos Seixas, FMU e UniFIEO; Giane da Silva Mariano Lessa, UFRRJ; George Gomes Coutinho, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; Walter Andrade, Fundação Padre Albino; Antonio Torres Montenegro, Universidade Federal de Pernambuco/UFPE; Regina Beatriz Guimarães Neto, Universidade Federal de Pernambuco/UFPE; Enilce Albergaria Rocha, Universidade Federal de Juiz de Fora; Reinaldo Salvitti, USP; Vania Noeli Ferreira de Assunção, PUC/SP; José Arlindo dos Santos, Fundação Universidade do Tocantins/UNITINS; Jose Carlos Vaz, USP; Marisa Midori Deaecto, USP; Luiz Cruz Lima, Universidade Estadual do Ceará/UECE; Maria do Carmo Lessa Guimarães, Universidade Federal da Bahia/UFBA; Ebe Maria de Lima Siqueira, Universidade Estadual de Goiás/UnU; Alexei Alves de Queiroz, UnB; Francisco Mazzeu, Unesp; Cláudia Regina Vargas, UFSCAR; Fábio Ferreira de Almeida, Universidade Federal de Goiás; Celso Kraemer, Universidade Regional de Blumenau; Gladys Rocha, UFMG; Murilo César Ramos, UnB; Deolinda Freire, Universidade Federal do Triângulo Mineiro; Corinta Maria Grisolia Geraldi, UNICAMP; João Wanderley Geraldi, UNICAMP; Durval Muniz de Albuquerque Junior, Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Rafael Sanzio, UnB; Sônia Selene Baçal de Oliveira, Universidade Federal do Amazonas/UFAM; Arlindo da Silva Lourenço, Uniban; Izabel Cristina dos Santos Teixeira, UFT/Araguaína; Glaucíria Mota Brasil, Universiade Estadual do Ceará; Alícia Ferreira Gonçalves, UFPB; Francisco Alves, UFSCar; Luiz Armando Bagolin, USP; Igor Fuser, Faculdade Cásper Líbero; Paula Glenadel, UFF; Lana Ferreira de Lima, Universidade Federal de Goiás/UFG; Karina Chianca Venâncio, Universidade Federal de Pernambuco/UFPE; Surya Aaronovich Pombo de Barros, Universidade Federal da Paraíba/UFPB; Fausto Fuser, USP; Silvia Beatriz Adoue, UNESP/Araraquara; Paulo Henrique Martinez, Unesp; Iram Jácome Rodrigues, USP; Sílvio Camargo, Unicamp; Fernando Nogueira da Costa, Unicamp; Mariana Cassab, UFRJ; Suzana Guerra Albornoz, FURG/Rio Grande e UNISC/RS; Alexandre Abda, FAP/SP; José Edvar Costa de Araújo,; Universidade Estadual Vale do Acaraú; Gabriel Almeida Antunes Rossini, PUC/SP; Cláudio Oliveira, Universidade Federal Fluminense/UFF; Aixa Teresinha Melo de Oliveira, CEFET/RJ – UnED/Petrópolis; Flávio Rocha de Oliveira, FESP/SP; Viviane Conceição Antunes Lima, UFRRJ; Rita Maskell Rapold, UNEB; Valter Duarte Ferreira Filho, UERJ e UFRJ; Romeu Adriano da Silva, Universidade Federal de Alfenas ; Paulo Cesar Azevedo Ribeiro, Universidade Estácio de Sá; Andréa Lisly Gonçalves, Universidade Federal de Ouro Preto; Álvaro Luis Martins de Almeida Nogueira, Cefet; Welerson Fernandes Kneipp, Cefet; Jarlene Rodrigues Reis, Cefet; André Barcelos Damasceno Daibert, Cefet; Luiz Antonio Mousinho Magalhães, Universidade Federal da Paraíba/UFPB; Maria Cristina Cortez Wissenbach, USP ; Denise Helena P.Laranjeira, Universidade Estadual de Feira de Santana; Magnus Roberto de Mello Pereira, Universidade Federal do Paraná/UFPR; Ricardo Cardoso Paschoal, CEFET/RJ; Luciano dos Santos Bersot, UFPR; Sérgio de  Paula Machado, Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ; Antônio Alberto Machado, Unesp/Franca-SP; Sérgio Ricardo de Souza, CEFET/MG; Angela Thalassa, Faculdade de Arujá / IESA; Débora C. Piotto, USP; Marcelo Parizzi Marques Fonseca, UFSJ; Carlos Augusto de Castro Bastos, Universidade Federal do Amapá; Carina Inserra Bernini, Centro Universitário FIEO; Marta Costa, USP; Ana Paula Hey, USP; Angela Maria Carneiro Araújo, UNICAMP; Ignacio Godinho Delgado, Universidade Federal de Juiz de Fora; Otávio Luís de Santana, UFCG; Vladmir Agostini, UFSJ; Roberto de Barros Faria, Universidade Federal do Rio de Janeiro; Sônia Maria Rocha Sampaio, UFBA; Anderson Pires, Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF; Wilma Ferreira de Jesus, Faculdade Católica de Uberlândia; Antonio José de Almeida Meirelles, Unicamp; José Ademir Sales de Lima, USP; Ileizi Fiorelli Silva, UEL; Ana Fernandes, UFBA; Léo Carrer Nogueira, Universidade Estadual de Goiás; Regina Ilka Vieira Vasconcelos, UFU; Dilmar Santos de Miranda,  UFC; Consiglia Latorre, UFC; Cláudia Maria Ribeiro Viscardi, Universidade Federal de Juiz de Fora; Sérgio Henriques Saraiva, Universidade Federal do Espírito Santo/UFES; Dolores Aronovich Aguero, Universidade Federal do Ceará; Attila Louzada, Universidade Federal do Rio Grande ; Rogério Bitarelli Medeiros, Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ; Rodney Werke, Unisul; Bruno Mendonça da Silva, Universidade Católica de Pernambuco; Ricardo Oliveira, UFRRJ; Hudson Costa Gonçalves da Cruz, Universidade Estadual Vale do Acaraú; Maurício Vieira Martins, Universidade Federal Fluminense; Mário Tadeu  Siqueira Barros, UECE/Universidade Estadual do Ceará; Flavio Galib, UNICAMP e UNIMEP/SP; Maria Amalia Andery, PUC/SP; Bruno Capanema, USP e UnB; José da Cruz Bispo de Miranda, UESPI; Marcos Olender, Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF; Simone Nacaguma, FACAMP/SP; Sônia Maria Aranha Rodrigues de Andrade, Faculdade Anhanguera; Carlos Eduardo O. Berriel, Unicamp; Yêda Maria da Costa Lima Varlotta, UMC/SP; Flávia de Mattos Motta, Universidade Estadual de Santa Catarina/USC; Maria Conceição Maciel Filgueira, Universidade Est. do Rio Grande do Norte ; Robson Laverdi, UNIOESTE; Glícia Pontes, Universidade Federal do Ceará; Sebastião Faustino Pereira Filho, UFRN; Roberto Hugo Bielschowsky, Universidade Federal do Rio Grande do Norte ; Américo Tristão Bernardes, Universidade Federal de Ouro Preto; Telma Ferraz Leal, Universidade Federal de Pernambuco; Cristiane Kerches da Silva Leite, USP; Vivian Urquidi, USP; Adriana Duarte, UFMG; Alexandre Fortes, UFRRJ; Carmelita Brito de Freitas Felício, Universidade Federal de Goiás; Nésio Antônio Moreira Teixeira de Barros, UFRN; Luiz Gustavo Santos Cota, Faculdade de Ciências Humanas do Vale do Piranga/MG; Clóvis Alencar Butzge, Universidade Federal da Fronteira Sul/UFFS/PR; Débora Cristina Morato Pinto, UFSCar; Márcia Marques, UnB; Antonio Carlos Moraes, Universidade Federal do Espírito Santo/UFES; Ricardo Brauer Vigoderis, UFRPE/UAG; Maria Luiza Scher Pereira, UFJF; Terezinha Maria Scher Pereira, UFJF
; Débora El-Jaick Andrade, Universidade Federal Fluminense; Clinio de Oliveira Amaral, UFRRJ; Cláudia Regina Andrade dos Santos, UNIRIO/UFRJ; Ulises Simon da Silveira, Univ. Est.Mato Grosso do Sul/UEMS; Fabrizio Guinzani, Unesc/SC ; Ana Elizabeth Albuquerque Maia, Universidade Federal do Ceará/UFC; Pedro Germano Leal, UFRN e University of Glasgow; Dimas Enéas Soares Ferreira, FUPAC, IPTAN e EPCAR; Geraldo Moreira Prado, Estácio de Sá e UNIRIO; José Luiz Aidar Prado, PUC/SP; Maria Elaine Kohlsdorf, Universidade de Brasília/UnB; Everaldo Carlos Venâncio, Universidade Federal do ABC/SP; Cláudia Souza Leitão, Universidade Estadual do Ceará/UEC; Lídia Santos, profa. de Literatura Brasileira na Univ. da Cidade de New York, NY, EUA; Sonia Maria Guedes Gondim, Universidade Federal da Bahia/UFBA; José Clécio B. Quesado, Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ; Micheli Dantas Soares, UFBA; Marcelo Milan, University of Wisconsin Parkside; Daniela Canella, Universidade Federal de Goiás/UFG; Elisabete de Sousa Otero, UFRGS; Sandro Caje, Faculdade Impacta de Tecnologia."

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Dos mangás aos animes - um "short-cut"


Osamu Tezuka
Osamu Tezuka, o pioneiro, foi um grande desenhista que ganhou notoriedade com seus quadrinhos nos anos de 1950 e hoje é considerado o pai dos filmes de animação japoneses. No início da década de 1960, as histórias de Tezuka eram muito populares e seu talento era reconhecido pelo cuidado extremo na construção dos cenários e personagens das suas histórias em quadrinhos. As histórias agradavam a crianças e adultos, com referências muito fortes da cultura européia e grande liberdade de imaginação. A qualidade do trabalho de Tezuka merecia ganhar movimento nas telas do cinema e assim ocorreu, com a criação da sua própria empresa, chamada Mushi Studios.
Tezuka realizou belas animações de curta-metragem para o cinema, seguindo, na medida do possível, os passos do seu grande ídolo, o norte-americano Walt Disney. Inventou personagens fabulosos, com poderes fantásticos, mas jamais abriu mão dos valores e dos sentimentos humanos nestas criaturas. Sua técnica apurada tem a mesma sofisticação dos grandes animadores norte-americanos e isto é muito relevante no seu trabalho, porque à época das suas primeiras realizações, o Japão era um país que ainda tentava se recuperar da Segunda Guerra Mundial e os recursos financeiros para os seus filmes não eram tão abundantes quanto hoje. A animação era criada quadro a quadro, desenho a desenho, pincelada a píncelada, o que é muito caro, demorado e trabalhoso.
Os brasileiros que têm mais de 40 anos de idade certamente conhecem ao menos um trabalho belíssimo de Tezuka, uma série de desenhos animados que durante anos fez grande sucesso na televisão brasileira, cujo título em inglês é Princess Knight, conhecida entre nós como A Princesa e o Cavaleiro. Se você se lembra ou conhece a Princesa Saphiri (na língua inglesa escrevem Sapphire), a personagem principal desta série, perceberá que o trabalho de Osamu Tezuka era realmente fabuloso.Os mais jovens estão descobrindo Tezuka com as refações de Astro Boy.
Falecido em 1989, Tezuka deixou discípulos geniais, como Katsuhiro Otomo, o idealizador de Akira, uma das fábulas de maior sucesso nos mangás e que também ganhou as telas do cinema.

Katsuhiro Otomo
Katsuhiro Otomo teve a oportunidade de desenvolver sua arte trabalhando no estúdio de Osamu Tezuka, aprimorando o seu talento sob a orientação do grande mestre.
Akira é um marco das histórias em quadrinhos. A aventura hi-tech criada por Otomo nos leva a refletir sobre grandes problemas próprios das sociedades mais adiantadas tecnologicamente. Partindo da idéia de uma experiência militar para desenvolver uma arma poderosa de destruição em massa, o roteiro de Akira é uma metáfora que nos leva para o submundo das gangues de adolescentes, o poder destruidor das drogas e a deterioração da sociedade e de um país à mercê dos efeitos da falta de controle das autoridades sobre o que é realizado secretamente em laboratórios e escritórios.
O poder para criar, o poder para destruir e o poder de corrigir os erros são o combustível de uma trama muito bem construída por Otomo. O roteiro do filme tem a história um pouco modificada do que está nos quadrinhos, mas ambos são resultado de um trabalho brilhante.
De certa forma, Akira é uma previsão dos tempos que vivemos, com governos incapazes de controlar o poder destrutivo de armas desenvolvidas com alta tecnologia, que acabam caindo nas mãos das pessoas erradas. Em Akira as forças do bem e do mal se lançam na luta usando todas as armas disponíveis como satélites com canhões lazer e mediunidade, lembrando grandes sucessos do cinema da década de 1980, como Guerra nas Estrelas e Scanners.

Hayao Miyazaki
Hayao Miyazaki é outro grande mestre destas artes. O seu gênio foi reconhecido com vários prêmios, como o Oscar de melhor filme de animação de A Viagem de Chihiro.
Os seres fabulosos de Miyazaki têm a qualidade de restituir no espectador a percepção do quanto somos humanos e quais são as nossas principais qualidades. Questões como a ecologia, a preservação dos valores culturais e sagrados estão sempre presentes no trabalho de Miyazaki.
A Viagem de Chihiro é um tabalho magnífico, sobretudo para quem compreende um pouco da cultura japonesa, das tradições, dos mitos, das religiôes mais tradicionais no Japão, como o budismo e o shintoísmo. Uma das mensagens mais importantes deste filme não é para as crianças, mas para os adultos. Hayao Miyazaki diz na tela, com todas as cores e belas imagens: “As crianças pagam muito caro pelos erros que nós, adultos, cometemos.” Este é um filme imperdível para crianças e adultos. Uma bela lição de sabedoria.
Para quem perdeu a oportunidade de ver A Viagem de Chihiro nas telas grandes dos cinemas, uma boa sugestão é passar numa locadora, fazer pipocas e reunir a molecada para assisti-lo com a boa dublagem feita para o português. Se não houver crianças por perto, também vale a pena assistir sozinho ou com uma companhia bacana. No mundo em que vivemos falta a poesia que Miyazaki coloca na tela.
O filme Princess Mononoke, de 1997, distribuído pela Miramax mas que não foi lançado no Brasil, não é para crianças. É um desenho animado para adolescentes e adultos, com cenas de violência e com apurada qualidade estética e visual. A fábula conta a história da luta dos deuses da floresta contra a opressão de uma vilã humana. Simplesmente fantástico.

Mamoru Oshii
Entre os excelentes realizadores atuais do Japão, Mamoru Oshii é uma referência importante. É um mestre na combinação das técnicas tradicionais com os recursos mais modernos na produção de animações. A qualidade técnica alcançada por Oshii e outros da sua geração é impressionante, mesmo para os padrões da indústria cinematográfica norte-americana. O trabalho que o destacou é uma aventura no estilo de Blade Runner, com personagens cíbridos (meio humanos e meio máquinas) e humanos interagindo em uma sociedade projetada no ano de 2029.
Ghost in the Shell, lançado no Brasil em DVD e VHS pela FlashStar como O Fantasma do Futuro, é uma adaptação para as telas do mangá homônimo de Masamune Shirow, filosoficamente denso e, por isso mesmo, mais interessante e mais atual do que Matrix ou qualquer outro filme que eu tenha assistido. No lugar de dividir o mundo em um universo real e outro virtual, Oshii desenvolve sua história no mundo real, com os pés bem no chão e muito atento ao desenvolvimento das tecnologias mais importantes dos nossos dias: a bioengenharia e a computação. A personagem central de O Fantasma do Futuro é uma andróide, cujo corpo foi construído em uma empresa para abrigar um cérebro supostamente humano, algo semelhante a Robocop, de Paul Verhoeven, e Inteligência Artificial, de Steven Spielberg, mas que muito mais “cabeça”, com uma dinâmica que foge à velocidade desesperada de videoclipe, sendo uma obra mais contemplativa, com pitadas da estética de um Wim Wenders e de um Akira Kurosawa.
O desafio da personagem principal é interceptar um vírus de computador que sai da rede mundial para ganhar vida “biológica”. Esse vírus não se espalha, nem contamina um número grande de computadores ou andróides, ele vai passando de um hospedeiro para outro, desenvolvendo consciência como indivíduo e usa suas táticas, da mesma forma que os seres vivos, para perpetuar-se. Um vírus lutando para deixar de ser apenas um código de programação e se tornar uma entidade viva.
Tudo o que se passa em O Fantasma do Futuro bem poderia ser considerado como um delírio, mas a ciência já sabe que células do cérebro humano e do sistema nervoso, os neurônios, podem ser usados em chips de computador desempenhando a mesma função dos antigos transistores. O futuro real caminha mais na direção das idéias de Oshii do que na de Matrix; pelo menos atualmente.
O trabalho seguinte de Mamoru Oshii se chama Avalon, um longa metragem baseado nas experiências de imersão em ambientes virtuais, na verdade um deslocamento da consciência para um mundo virtual, como ocorre com os personagens de Matrix. Em Avalon, os personagens “entram” na máquina para participar de um jogo de videogame cujas fases mais adiantadas podem ser letais para os jogadores, que jogam com as próprias vidas. Se, em O Fantasma do Futuro, Oshii usa as técnicas tradicionais de animação, com os desenhos feitos a mão e filmados quadro a quadro, realçando apenas os efeitos de iluminação com programas 3D, em Avalon os efeitos 3D são poucos e aplicados em imagens de vídeo de alta definição, capturadas com câmeras digitais.
Às vezes o filme parece monótono, lento demais para quem está acostumado com a velocidade de vídeo-clipe dos filmes de aventura feitos em Hollywwod, mas é um belo trabalho. Realizado na Polônia, com atores locais , o filme tem imagens belíssimas e uso de locações reais. Os trabalhos de Oshii são bastante econômicos em munição, se compararmos com os filmes americanos, mas em Avalon os tiros e as mortes de personagens seguem a necessidade do jogo que está sendo jogado. Mesmo assim é um filme feito para o espectador pensar, acima de tudo.
Por último, de Oshii, há a seqüência de Ghost In The Shell, o belo longa de 2005 Innocence. Uma obra de maior apuro estético do que as anteriores, que já eram referência em termos de acabamento e refinamento. Vale a pena assistir, pelo alto nível de reflexão que Oshii propõe, seja para apreciar a evolução das técnicas de animação, ou simplesmente para se divertir.

domingo, 10 de outubro de 2010

Pixografias I

Estou escrevendo a parte da minha dissertação que é sobre a pixação em São Paulo. Há alguns anos que venho pesquisando e acompanhando à distância a arte dos manos. A foto que ilustra esse texto foi obtida há pouco. Passei numa rua e vi essa marca caligráfica que considero expressão de fina competência artística. 



Já pixei. No início dos anos 80 eu e alguns amigos fomos parar no Primeiro DP de Santo André porque estávamos pixando. Meu pixo seria um tímido "Maluf é o meio para o fim", mas não deu tempo. Um camburão da civil, gentilmente, nos guiou até a delegacia. Não ficamos presos, o dono do imóvel não se apresentou para dar queixa. Passamos algumas horas na delegacia; "explicamos" que não estávamos fazendo pixo político, mas declarações de amor. O delegado ficou sensibilizado, nos deu uma canseira até amanhecer e nos liberou; era um homem romântico, nos tratou bem. Depois desse episódio muitos anos passaram até que minha atenção se volta novamente para a pixação.

O Prof. Dr. Artur Matuck me pediu que editasse um material que ele havia gravado em Salvador há alguns anos. Logo de cara, quando um dos rapazes que aparecem no vídeo pega a latinha de spray, seu gesto, o movimento do corpo, me chama à atenção. O resultado do gesto ficou expresso na parede: um grande nome em forma de círculo, com mais ou menos um metro e meio de diâmetro. Pode parecer banal, a pixação. No entanto, um olhar curioso que busque decifrá-la cuidadosamente será recompensado com uma história e com o rompimento das barreiras do pensamento comum.

Na minha opinião sincera, a pixação é arte, sim. Mas não qualquer pixação. A maioria das pixações que vejo é motivada pela emergência de uma necessidade ancestral de comunicar. É um impulso muito mais complexo do que normalmente deduzimos e por isso merece atenção dedicada. É um ato social; é um ato político; é um ato psicológico; é um ato antropológico; é um ato filosófico; é um ato, sobretudo, humano, de liberdade. É artístico, porque o ato é manifestação da senciência. Uso o termo "senciência" no sentido usado por Merleau-Ponty, quando analisa a obra de Cézanne. Nenhum pixador será Cézanne mas, como a arte do pintor de Aix-en-Provence, a pixação é, ao mesmo tempo, açoite e vítima de uma sociedade que não tolera a liberdade. É o mesmo Merleau-Ponty quem diz: "Se a liberdade é liberdade de fazer, é preciso que aquilo que ela faz não seja desfeito em seguida por uma liberdade nova.", no último capítulo da Fenomenologia da Percepção. Nossa sociedade adora desfazer, sob o pretexto de "fazer melhor". A burguesia se acha capaz de fazer sempre o melhor. Temos que reconhecer que a burguesia sabe fazer dinheiro melhor do que nós, proletários e pobres.

Essa pixação deixada por Falcão numa parede, em Cidade Tiradentes, extremo leste da capital paulista, mostra algo semelhante ao exercício de Sagat, o pixador de Salvador: a rigidez da escrita foi vencida pelo ato senciente, quando o corpo e a mente atuam em perfeita sintonia para criar uma expressão. O resultado é a forma orgânica da escrita estendida aos limites da possibilidade de decifração, como os calígrafos árabes fazem há séculos. É arte, da boa. Vandalismo? Sim, porque não é arte dos "patrícios", mas arte dos bárbaros e vândalos que estão sendo convidados a invadir o território das artes com seu sopro de vitalidade, de originalidade que brota da genuína experimentação. Cézanne era um vândalo, também.

O pixo é uma arte pública, não está restrita às ruas, e muito menos às bienais, galerias e museus. É uma arte fundamentalmente popular, acessível a todos, sem pagamento de ingresso. Está na rua. É da rua. É do povo. Tem muito joio e algum trigo. Há quem avalie o pixo pela atitude do pixador, há quem avalie pelo exercício estético, há quem avalie pelo seu potencial de despertar protestos.

Pode ser que a pixação acabe se transformando num grande negócio no mercado das artes, mas isso não a destruiria. A rendição da intelectualidade e da burguesia ao pixo é apenas uma recorrência, como ocorreu tantas vezes no passado com outras manifestações artísticas. Não macula, não ameaça a arte de pixar. É uma rendição com olhos que não passam da superfície de uma arte vacinada, que vem do paleolítico, antiga como o homem, anterior às civilizações. É arte rupestre para alguns, parietal para outros, graffito para outros mais; não importa que o nome mude, é sempre o mesmo impulso, a mesma parede, a mesma tinta, há dezenas de milhares de anos, variando apenas de acordo com cada época. Não há dúvida de que sobreviverá à nossa. Sempre sobrevive, como nas catacumbas romanas e nos muros e paredes de Pompéia. E é sempre por meio dos seus registros que as ciências e as artes desvelam o humano.